A intenção do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de implementar uma tarifa de 25% sobre importações do México e Canadá a partir de 20 de janeiro do ano que vem gerou intensas discussões no mercado financeiro, levando analistas a avaliarem os possíveis desdobramentos econômicos e estratégicos da medida, destacando seus efeitos sobre empresas brasileiras expostas ao comércio EUA-México e que poderiam ser afetadas.
Trump justifica a medida como uma tentativa de combater a imigração ilegal e o tráfico de drogas, especialmente o fentanil, medicamento opioide sintético para dores severas considerado extremamente potente. Segundo analistas do BTG Pactual, a decisão reflete uma estratégia de negociação com México e Canadá para obter concessões em questões de imigração e segurança. Apesar disso, o acordo comercial USMCA (acordo Estados Unidos-México-Canadá) impede aumentos unilaterais de tarifas, tornando a implementação dependente de um processo formal.
Já os analistas do Bradesco BBI acreditam que as tarifas têm caráter provisório e que a possibilidade de suspensão está atrelada ao progresso em questões imigratórias e antidrogas.
No setor de bens de capital, a exposição de empresas brasileiras ao comércio EUA-México varia. O BTG Pactual calcula que apenas 6% da receita consolidada de empresas sob sua cobertura provêm do México, destacando Tupy (TUPY3), WEG (WEGE3) e Iochpe-Maxion (MYPK3) como as mais expostas. Segundo o relatório, a Tupy, por exemplo, gera 11% de sua receita com produtos fabricados no México e exportados para os Estados Unidos. No caso da WEG, essa proporção é de 8%, enquanto para a Iochpe-Maxion é de 5%.
De acordo com o Bradesco BBI, a Tupy apresenta maior exposição (34%), seguida por Iochpe-Maxion (31%), WEG (8%) e Randon (1%). Para mitigar os efeitos das tarifas, analistas sugerem que essas empresas poderiam repassar os custos às montadoras ou redirecionar parte da produção para o Brasil ou outras unidades no exterior. No caso da Tupy, a produção de blocos de motor no Brasil para exportação seria uma alternativa viável.
O Bank of America também avalia que, se tarifas incrementais forem impostas, isso seria um tanto negativo para a WEG e Tupy no curto prazo. Isso ocorre porque a WEG produz transformadores, subestações e motores elétricos no México e os exporta para os EUA; enquanto a Tupy produz blocos e cabeçotes de motor no México e os vende nos EUA. A América do Norte responde por 27% das vendas da WEG – a administração declarou na teleconferência do 3T24 que cerca de 1/3 das vendas norte-americanas são produzidas nos EUA, 1/3 no México e 1/3 no exterior – especialmente no Brasil.
Portanto, estima que cerca de 9% das vendas da WEG são exportadas do México para os EUA (um número que o banco espera aumentar nos próximos anos devido à construção da capacidade de Transmissão e Distribuição no México). Do lado positivo, a administração da WEG declarou na teleconferência do 3T24 que está bem preparada para reorganizar sua produção dentro dos países – incluindo dentro dos EUA, no caso de mudanças nos impostos de importação.
A empresa lembrou aos investidores que cerca de 50% da capacidade dos motores elétricos da Marathon está ociosa, o que poderia ser usado para uma reorganização da produção.
Enquanto isso, 43% da receita da Tupy deriva das vendas na América do Norte – a maioria das quais produzida em suas duas plantas mexicanas. Do lado positivo, como a Tupy é a maior e uma das poucas fabricantes de blocos e cabeçotes de motor no mundo ocidental, o banco espera que ela consiga repassar pelo menos parte do aumento da tarifa aos consumidores.
Setores com impacto limitado
Algumas empresas brasileiras apresentam menor vulnerabilidade ao aumento tarifário. A Embraer (EMBR3), por exemplo, exporta diretamente do Brasil, enquanto a Marcopolo tem operações limitadas no mercado americano. Segundo o Bradesco BBI, a Mahle Metal Leve também enfrenta impacto neutro, já que suas exportações para os Estados Unidos são provenientes de outras regiões.
Ambos os relatórios convergem na expectativa de que a proposta de tarifas não resulte no rompimento do USMCA (acordo de livre comércio entre os Estados Unidos, México e Canadá), mas leve a concessões do México em áreas como controle de drogas e imigração. Analistas do BTG Pactual lembram que o México pode retaliar com tarifas sobre produtos de estados americanos controlados por republicanos, estratégia que já foi empregada anteriormente.
Por ora, o mercado monitora os desdobramentos, enquanto Trump dá dois meses para que México e Canadá apresentem soluções. Apesar das incertezas, o peso mexicano já se desvalorizou 25% em relação ao dólar desde junho, o que mitiga parte do impacto competitivo das tarifas, segundo o BTG Pactual.
O ministro da Economia do México, Marcelo Ebrard, disse nesta quarta-feira (27) que a tarifa de 25% proposta pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre todos os produtos mexicanos causaria a perda de 400 mil empregos e desaceleraria o crescimento da maior economia do mundo, além de afetar as exportações mexicanas.
“É um tiro no pé”, disse ele em uma coletiva de imprensa, acrescentando que o México deseja mais cooperação e integração regional em vez de uma guerra de impostos de importação retaliatórios.
Fonte: Info Money