O Congresso Nacional aumentou a pressão sobre o Carrefour e o governo francês, mesmo após a carta de retratação do CEO global da rede de supermercados francesa, Alexandre Bompard, após as críticas e o boicote defendido por ele às carnes do Mercosul.
Nesta quarta-feira (27/11), a Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal aprovou um requerimento da senadora Tereza Cristina (PP-MS) para convidar o embaixador da França em Brasília, Emmanuel Lenain, e o presidente do Carrefour Brasil, Stéphane Maquaire, para prestar explicações sobre o episódio. A audiência ainda não tem data marcada.
A ex-ministra da Agricultura disse que o pedido de desculpas de Bompard foi “pífio” e disse que as críticas aos produtos brasileiros escalaram na França, com as declarações de parlamentares franceses em sessão ontem. Segundo ela, o Parlamento do Mercosul (Parlasul), que une deputados e senadores de Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, deverá aprovar uma manifestação de repúdio aos colegas franceses na próxima sessão, em dezembro.
Ela afirmou que é preciso ouvir do embaixador uma posição oficial da república francesa. Tereza Cristina criticou ainda falas “desastrosas” da ministra da Agricultura da França, Annie Genevard, relacionando a produção brasileira ao uso de hormônios e antibióticos.
“Se a França não quer entrar no acordo Mercosul-União Europeia, ninguém tem nada com isso. O movimento é contra o Mercosul, mas o foco foi Brasil. Os parlamentares franceses disseram que produtos brasileiros são lixo, isso precisa de uma retratação”, disse a senadora.
“O pedido de desculpas [do Carrefour] foi pífio, não pede desculpas coisa nenhuma. Ele apenas diz que francês compra de francês e o Carrefour brasileiro que compre dos brasileiros”, disse durante sessão no Senado. Tereza Cristina disse ainda que a carta contém um “pequeno deboche” ao dizer que a carne brasileira é gostosa.
A senadora repetiu que a acusação de que os produtos brasileiros não cumprem normas e requisitos sanitários e de qualidade são uma “inverdade” e classificou como “surreal” a ofensiva de multinacionais francesas, que têm grandes operações no Brasil, como a Tereos.
“Tudo bem a pressão dos agricultores franceses, cada um faz seu papel. Mas não podemos admitir falta de respeito com o Brasil e com os produtos brasileiros”, afirmou a ex-ministra.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que as declarações do CEO do Carrefour foram “descabidas, afrontosas e absurdas”.
“Não sabemos se a inverdade escamoteia alvos ocultos, como perturbar o acordo Mercosul-União Europeia, se é mero protecionismo ou mesmo fruto da irresponsabilidade de quem deveria primar pela responsabilidade, honestidade e zelo de suas intervenções”, afirmou na sessão.
Calheiros ressaltou que esse tipo de declaração causa prejuízos. “O terror comercial é um prática reprovável e acabou provocando uma centelha desnecessária. O boicote que acabou sendo boicotado pelo próprio supermercado”, afirmou.
Pressão na Câmara
A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados também aprovou quatro requerimentos sobre o tema. Um deles convida o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a prestar explicações sobre o episódio e sobre a posição oficial do Brasil.
Inicialmente, o requerimento era de convocação, mas foi transformado em convite após acordo com a base governista na comissão. O colegiado também aprovou um pedido de informações oficiais ao chanceler sobre o mesmo tema.
Ainda foi aprovado um requerimento para a realização de audiência pública para debater as ações e estratégias tomadas pelo governo brasileiro com relação às medidas protecionistas e distorções ambientais do mercado internacional. A Comissão de Agricultura também aprovou a elaboração de uma nota de repúdio à decisão do Carrefour de suspender a compra de carnes do Mercosul.
Deputados governistas e da oposição destacaram o posicionamento uníssono do país em defesa da produção nacional nesse episódio. “É disputa comercial. Temos que ter posições rigorosas”, disse o deputado Bohn Gass (PT-RS).
O deputado Zé Silva (Solidariedade-MG) disse que o país deve se preparar para enfrentar outras medidas protecionistas no futuro. Uma delas deve vir dos Estados Unidos, com sobretaxação de exportações brasileiras, apostou ele.
O presidente da Comissão e autor de três dos quatro requerimentos aprovado, Evair de Melo (PP-ES), disse que a “infeliz decisão” do Carrefour não foi um fato isolado e que esse tipo de movimento cria barreiras comerciais disfarçadas de discursos pró-sustentabilidade.
Sobre os requerimentos, ele disse que é importante ter uma posição oficial do Brasil nesse tema. “Não podemos ficar de joelho. Temos grandeza, tamanho e conhecimento de mercado para que possamos fazer uma dura nota de repúdio que vá para embaixada, para comissão de agricultura da França, para saber que vamos enfrentar o tema com grandeza e não vamos ficar submissos à Europa”, afirmou na sessão desta quarta-feira.
Fonte: Globo Rural